sábado, 8 de agosto de 2009

‘Perguntinha desagradável? Não, não e não!’

Por Fernanda Ezabella, retirado do Observatório da Imprensa (http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=549ASP016)


"No reino das celebridades, cutucar o rei com vara curta não tem graça. Mesmo se for o ‘rei da comédia’, como vem sendo chamado o diretor e produtor Judd Apatow (‘O Virgem de 40 Anos’). E mesmo se for nos Estados Unidos, o país da imprensa livre.

Eu estava em Los Angeles, no mês passado, quando participei da entrevista coletiva de ‘Funny People’, filme de Apatow com Adam Sandler. Num sábado, jornalistas estrangeiros foram ver o longa. Na saguão do cinema, distribuíam o kit de imprensa, uma papelada com a história do filme, detalhes da carreira dos atores, os créditos de produção e o recibo da limusine de Apatow.

Como? Sim, estava lá, por engano, a ficha da limusine que levaria o diretor, às 7h15 do dia seguinte, ao hotel onde aconteceriam as entrevistas. Preço (US$ 1.375, cerca de R$ 2.750) e endereço de sua casa estavam no recibo do carro, que percorreria 12 milhas ida e volta (20km). Um táxi daria US$ 40.

No domingo, sigo para o hotel à beira-mar. Entre mesas fartas de comida e bebidas, os kits de imprensa continuam iguais. Na entrevista com diretor e elenco, peço o microfone:

‘Tem sido um período difícil com a crise financeira, os estúdios têm cortado empregos e orçamentos’, digo a Apatow e continuo: ‘É uma pergunta desagradável, mas como você justifica ter uma limusine com esse preço te pegando em casa, numa distância tão curta como seis milhas, como nos mostra aqui no material de imprensa?’

Apatow não entende. ‘O quê? Onde?’ O ator Seth Rogen brinca: ‘Uma limo foi te buscar! Mas seis milhas é longe!’

Os jornalistas riem na sala, mas não os assessores. Um deles tira o microfone da minha mão, enquanto eu tento explicar a pergunta ao diretor.

Apatow ameniza: ‘Mas eu não ligo de responder’, diz. ‘É que, após trabalhar 12, 14 horas por dia, é perigoso dirigir [...] por isso os estúdios querem assim [...]. Mas você pode me buscar se quiser, eu não ligo.’

Sem microfone, retruco: ‘Se você me pagar esse valor, eu também não me importo, ficaria feliz em fazê-lo. Mas é uma soma muito alta, não?’

O diálogo segue atrapalhado, e dois assessores me interrompem novamente. Desisto. Outra jornalista faz a última pergunta: ‘Apatow, quando você se deu conta de que deu certo?’

O diretor não perde a piada: ‘Quando consegui limusines me pegando em casa!’

A mulher de Apatow, Leslie Mann, que também está no filme, tem um chilique com os assessores. ‘Isso não é nem um pouco legal’, diz, olhando o kit. ‘É o endereço da nossa casa!’

Tento sair à francesa, mas sou abordada por uma assessora. Ela tira o kit da minha mão, enquanto os outros assessores arrancam a página ‘maldita’ dos demais jornalistas."



Folha de S. Paulo
Estúdio não se pronuncia oficialmente

"Questionada sobre as razões pelas quais impediu a jornalista da Folha de concluir sua pergunta em entrevista coletiva em Los Angeles, a Universal declarou que não se pronunciaria ‘oficialmente’. Não oficialmente, porém, a assessoria do estúdio no Brasil, comunicada da confusão por colegas estrangeiros, telefonou para a Ilustrada para se queixar da repórter e questionar a publicação do material, poucos dias depois do ocorrido.

Informaríamos que houve vazamento de um recibo? Incluiríamos os dados da nota? A reação à pergunta?

Diante das respostas positivas, a assessoria mudou de estratégia. Disse que, a partir dali, a Folha ‘poderia’ não ser mais convidada para os eventos da empresa.

Quando foi pedida uma posição da empresa, a Universal voltou atrás -disse que o jornal continuará a ter acesso às rodas de imprensa, mas que a repórter Fernanda Ezabella agora faz parte do ‘black book’ (livro negro) de todos os assessores presentes na ocasião. Seu nome poderá ser vetado no futuro.

Informada sobre a publicação desta reportagem, a empresa manteve a recusa de se pronunciar."

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Puta é Comunicóloga!

Este texto abaixo foi publicado no Carol #234, no dia 5 de dezembro de 2006.
Com a discussão sobre jornalista ser cozinheiro, nada melhor que lembrar que as garotas de programa também têm sua vez no mundo da comunicação social



* Putas entendem mais de Publicidade do que eu

Eis que no último Carol fui surpreendido por uma atividade da semana meio excentrica (não se tratava de mais um video estúpido do YouTube! ou algum link para uma piadinha que todo mundo já recebeu no email uns 6 meses antes de ser sugerida por esse e-zine). A indicação de atividade vinha do site do Ministério do Trabalho e Emprego e trazia a descrição sumária dos "profissionais do sexo". Tomado por um momento raro de reflexão sobre esse curso em que me formei e em que os leitores pretendem pelo menos um dia tentar formar, cheguei a seguinte conclusão: "Puta também é comunicóloga". Listo abaixo os meus argumentos baseados na descrição da atividade pelo Ministério:

1 - "[Profissionais do sexo] Batalham programas sexuais em locais privados, vias públicas e garimpos". Vemos aqui o clássico momento da prospecção de clientes. A puta almeja aumentar as suas vendas e substituir a cartela de clientes inativos, para isso ela visa seus clientes potenciais através dos aspectos financeiros e psicologicos determinando o potencial dos clientes pela capacidade de compra e pelo desejo da compra.
A puta sabe onde encontrar o seu cliente e utiliza vários mecanismos de prospecção de clientes: algumas fazem uma "prospecção a frio" somente visitando clientes; algumas participam de "mostras" e "feiras" que envolvem o encontro de pessoas dispostas comprar; algumas trabalham atendendo os "clientes orfãos" qe não são mais atendidos pelas suas vendedoras e algumas até utilizam sistemas de prospecção eletrônica pela internet.

2 - "atendem e acompanham clientes homens e mulheres, de orientações sexuais diversas". Aqui vemos as primeiras etapas após a conquista do cliente: o atendimento e planejamento. A puta sabe que nenhum cliente é igual e está disposta a identificar as peculiaridades que envolvem cada trabalho, lançando mão da sua experiencia em atender bem e corresponder as necessidades do cliente. A puta sabe atuar oferecendo serviços específicos para cada nicho de mercado e sabe que um serviço bem feito pode fidelizar um cliente.

3 - "administram orçamentos individuais e familiares; promovem a organização da categoria". Aqui vemos duas importantes qualidades das putas: planejamento orçamentário e organização sindical. Todas as putas sabem os cuidados necessários para administrar a comercialização de seus serviços, estabelecendo verbas de marketing e propaganda, determinando os custos de venda e metas a serem alcançadas. As putas também sabem se organizar e aproveitam os benefícios de uma organização sindical, como a promoção de cursos de especialização, acesso a legislação específica, acesso a tabela de preços de mercado e demais vantagens.

4 - "Realizam ações educativas no campo da sexualidade". Putas sabem como o mercado tem bons olhos para a responsabilidade social dentro das prestadoras de serviço e sabe utilizar essa ferramenta de marketing sabiamente. Conseguem conduzir suas atividades e ainda realizarem trabalhos educativos de forma exemplar, dando bons exemplos sexuais para crianças e adolescentes.

5 - "propagandeiam os serviços prestados". Preciso explicar essa parte?

6 - "As atividades são exercidas seguindo normas e procedimentos que minimizam as vulnerabilidades da profissão". Por fim, vemos que as putas assim como publicitários trabalham com o sistema da auto-regulamentação. Cada serviço prestado é cuidadosamente elaborado para não gerar dolo para o cliente e a prestadora do serviço, criando um esquema de prática não abusiva e ética da putaria.

Depois de listar meus argumentos espero que todos tenham percebido realmente como o nosso curso anda bastante deficiente, pois enquanto andam por cortar habilitações o caminho correto seria agregar mais uma delas. Espero que o nosso DCS possa um dia vislumbrar o quanto vanguardista seria também oferecer vagas para habilitações em Putas e Michês. Conto com o apoio de todos para a campanha "Puta também é comunicóloga!"

Bolzão (PP)
bolzao@yahoo.com.br

Obs.: Nenhuma puta foi consultada para realização deste texto. Para a manutenção sadia do meu namoro, deixo claro que não mantenho nenhum tipo de relação profissional com putas, RPs e RTVs.